sexta-feira, outubro 26, 2012

Mendes Ribeiro fala sobre o tratamento contra o câncer: "A doença nos ensina muito"

A batalha do ministro Mendes Ribeiro contra o câncer completou um ano.
                                                De visual novo. Sem a cabeleira, parte esfacelada pela quimioterapia, parte zerada pela máquina de raspar do filho Fernando. Há quase um mês, quando poucas mechas ainda resistiam, coube ao primogênito peitar o pai.
— Vamos tirar esse cabelo.

Em vídeo, acompanhe a entrevista com o ministro:

Fernando sentou o ministro da Agricultura em uma cadeira e ligou a máquina. Deixou à mostra a careca e a cicatriz em forma de tiara, herança da segunda cirurgia para retirada de um tumor no cérebro, marca da luta do gaúcho pela vida. O filho fez de Mendes um Sansão às avessas: sem os cabelos, porém fortalecido.
— A doença nos ensina muito: mostra como somos frágeis e, principalmente, o quanto temos de ser fortes. É uma luta que dá para ganhar. E eu vou ganhar — emociona-se Mendes, sem conter as lágrimas.
A batalha começou num sábado, 15 de outubro de 2011, ao entrar no centro cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após os médicos diagnosticarem o retorno do tumor extirpado do cérebro em 2007. O ministro passou quatro horas com a cabeça aberta, confiada aos cuidados da equipe do cardiologista Roberto Kalil Filho, médico da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula.
A sensação não era nova. Quatro anos antes, Mendes descobriu um tumor por acaso, enquanto tratava de um resfriado. Em outubro do ano passado, menos de dois meses após assumir o Ministério da Agricultura, teve de mergulhar no sono da incerteza mais uma vez. Era o auge da carreira política do peemedebista, deputado federal no quinto mandato.
— Na primeira vez eu tive sorte, será que terei na segunda? Será que vou acordar, vou mexer o corpo, vou falar? — questionava-se.
Quando despertou da cirurgia, Mendes tentou e conseguiu mover as pernas. Fez o mesmo com os braços e murmurou:
— Oi, tudo bom?
O gaúcho saudou a si mesmo. Mexer o corpo, falar e ouvir eram sinais de sobrevivência, o marco zero da nova peleia contra o câncer. Desde então, o calendário virou 12 páginas. A recuperação galopava sem percalços, o paciente seguia à frente do ministério, foi à Albânia, Hungria, Inglaterra, Rússia, Bolívia, Chile e Argentina. Até a chegada das más notícias de agosto.
Nas revisões periódicas, os médicos constataram que o tratamento a base de quimioterápicos orais, forma de evitar outro retorno do tumor, perdera o efeito. Seria preciso investir na quimioterapia convencional. As sessões quinzenais, mais os enjoos consequentes, impediram as viagens longas e reforçam o zelo da família.
Duas convulsões em meio ao tratamento
Mendes vive em um hotel de Brasília com a mulher Fernanda, 40 anos. Troca mensagens com os três filhos — Fernando, 35, Pablo, 32, e Alexandre, 31 —, com as irmãs e a mãe. O ministro não dorme sem falar por telefone com a octogenária Dona Teresinha, que mora em Porto Alegre, e sem orar. Católico, mas ligado ao espiritismo, assegura ver e sentir a presença do pai, o apresentador e político Jorge Alberto Mendes Ribeiro, morto em 1999, vítima de câncer.
— O pai não me abandonou, penso muito nele — confidencia.
A proteção se mostrou eficaz no começo do mês. Após acordar enjoado, Mendes correu ao banheiro do hotel e apagou. Recuperou a consciência deitado na maca, entrando na ambulância. Sofrera duas convulsões, o que poderia sinalizar o fracasso do tratamento. Superou o susto, reforçou a fé e não se furta de fazer planos de curto, médio e longo prazo.
No horizonte próximo, Mendes vê mais quatro meses de quimioterapia, projeta a cura para fevereiro do próximo ano. Após, quer intensificar o trabalho na Agricultura, pavimento até um novo sucesso nas urnas.
— Não penso em me afastar do voto. Eu não penso em deixar de disputar eleição em 2014.
A doença
Mendes Ribeiro diagnosticou o primeiro tumor em 2007, por acaso, ao tratar um resfriado. Foi operado pelo neurologista Nelson Ferreira, em Porto Alegre. Em setembro do ano passado, teve a confirmação de que o problema voltara. Durante uma reunião no ministério, sentiu um forte tremor na mão esquerda. Realizou os exames e, no mês seguinte, obrigado pela presidente Dilma, realizou a segunda cirurgia:
— A Dilma ajudou a salvar minha vida.
Novo aniversário
Mendes Ribeiro nasceu em 27 de dezembro de 1954, em breve completará 58 anos. No entanto, o dia 15 de outubro ganhou contornos de segundo aniversário. Quando a cirurgia fechou um ano, os amigos enviaram e-mails e mensagens por celular. Ficou sensibilizado com a saudação de um amigo militar, que o ministro prefere não identificar: "Amigo de tantas caminhadas. Eu e minha família temos a certeza de que tua fé e determinação serão o diferencial em mais esta luta que serás vencedor. Grande abraço, meu líder."
Protegido
Os médicos proibiram as viagens longas, os costumeiros giros do peemedebista pelo Interior. Concentrado em Porto Alegre, Mendes segue recebendo carinho dos eleitores, que perguntam sobre sua saúde e desejam uma rápida recuperação.
— Virou uma romaria — atesta.
Os mais exaltados entregam santinhos ao ministro e oferecem orações. Alguns dos presentes Mendes leva na carteira, como as imagens de Santo Expedido, São Peregrino e Jesus Cristo.
A careca
Apesar da reconhecida vaidade, Mendes Ribeiro nega estar incomodado com o novo visual — chegou a usar boina por dois dias, porém desistiu.
A careca expôs não só a cicatriz da operação como a gravidade da doença, assunto até então restrito aos mais íntimos.
— Tu tens que assumir o câncer, não tem conversa — diz o ministro, que aprendeu a fazer piada da situação.
— Tomar banho careca é uma praticidade — brinca ele.
Herança política
No meio do ano, o ministro foi surpreendido por uma decisão: o filho Pablo (foto acima) avisou que iria concorrer a vereador em Porto Alegre.
O pai programou pequenos comícios com o herdeiro pela Capital, no entanto, teve de ser internado em São Paulo na véspera das eleições. Nem sequer pôde votar em Pablo.
— E se faltasse apenas um voto? Poderia ser o meu — comenta Mendes, que acompanhou a apuração pelo rádio, do hospital. Pablo ficou como suplente do PMDB.
Gosto de lata
Mendes Ribeiro faz quimioterapia na unidade de Brasília do Hospital Sírio-Libanês. Quinzenais, as sessões duram em média 30 minutos, realizadas sempre nas sextas-feiras. Agressivo, o tratamento derruba o apetite.
— A boca fica com gosto de lata — revela o ministro, que perdeu seis quilos nos últimos meses.
Duro na queda
A rotina de trabalho do gaúcho tem de 10 a 12 horas por dia, período de luta constante contra os enjoos causados pela quimioterapia.
— Quando bate o enjoo, a vontade é de não sair de casa, de só ficar deitado.
Na última terça-feira, o teste de resistência foi diante da presidente Dilma. Suportou as náuseas e levou os despachos até o fim.
Corpo e alma
O ministro é um homem de fé. Além das imagens de santos que guarnecem seu gabinete e das orações que guarda na carteira, recebe apoio de pessoas ligadas à religião espírita. Uma senhora chegou a telefonar para um amigo avisando que tinha mensagens de Mendes Ribeiro, o pai. Ela viajou do interior do Estado a Porto Alegre para repassar o recado.
Missões em série
Quando Dilma viu o ministro pela primeira vez sem cabelos, riu com carinho. A presidente monitora a saúde do amigo com telefonemas ao médico Roberto Kalil Filho. A petista, que já passou por tratamento semelhante em razão de um câncer linfático, repassou missões ao ministro. Determinou mudanças e melhoria nos serviços da Conab, trocas na Embrapa, que já está operando sob as ordens de um novo presidente, e maior agilidade do seguro agrícola:
— Estou extremamente orgulhoso do trabalho que faço, mas meu primeiro orgulho é vencer a doença.
Longo prazo
O plano de longo prazo de Mendes é chegar ao Palácio Piratini, desejo que também foi acalentado pelo pai, seu exemplo de vida.
— O pai tinha uma frase maravilhosa: "Eu vou morrer tentando, tendo sido ou sendo governador do meu Estado — recorda Mendes, para completar em seguida:
— Preciso dizer mais alguma coisa?
Carolina Bahia e Guilherme Mazui, de Brasília

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