segunda-feira, março 28, 2011

IRON MAIDEN









Bruce Dickinson : Iron Maiden tocou para 55 mil pessoas em São Paulo

Lá pela metade do show do Iron Maiden em São Paulo, na noite calorenta deste sábado (26), o primeiro da turnê brasileira, Bruce Dickinson parecia desnorteado. O público gritava o nome do vocalista, ele tentou dizer uma frase, não conseguiu. Bateu no peito, emocionado, e o exército formado por 55 mil pessoas de camiseta preta que lotaram o estádio Morumbi começou o coro de "Maiden, Maiden". "Esperamos seis semanas desde o início da turnê mundial para finalmente estar aqui", disse, finalmente, Dickinson. A plateia delirou. É mais ou essa a relação que os fãs brasileiros mantêm com a lenda do heavy metal, e justifica a frequência com que os britânicos vem para cá – esta é a nona passagem do grupo pelo Brasil.


Ao mesmo tempo, não é uma relação, digamos, completamente sincera. O show já havia avançado algumas músicas quando o vocalista se dirigiu ao público para avisar que o repertório traria uma mistura de canções novas, do álbum futurista “The Final Frontier”, lançado em agosto do ano passado, e “muita coisa legal das antigas”. Além disso, prometeu que aquela seria uma “noite especial”, guardada especialmente para os brasileiros. Se ele se referia ao setlist, não cumpriu: as 16 faixas foram as mesmas tocadas nos demais shows da América Latina e até no começo da turnê, em fevereiro, na Austrália.

O que não é um demérito. Desde o início percebe-se que o espetáculo segue um roteiro bem elaborado, casando vídeos, imagens no fundo do palco e intervenções tecnológicas. Enquanto uma parte da plateia torce o nariz para “The Final Frontier”, deixando bem claro que o álbum não é uma unanimidade, a outra, bem maior, canta junto e comemora as faixas. Foi assim logo na abertura. Um vídeo com espaçonaves, muito fogo, o monstro Eddie – mascote da banda – e até águas-vivas acompanhava a parte instrumental da faixa-título, até que o sexteto, enfim, surgiu no palco. No fundo, luzes brilhavam para simular a vastidão do universo, até porque o céu da cidade não estava nada estrelado.


“Scream for me, São Paulo”, gritou Dickinson, naquela que é sua marca registrada. Sua performance, aliás, continua exatamente a mesma – vestindo calça camuflada e uma camiseta onde se lia “Psych Ward” (ala psiquiátrica), Bruce cantou muito, deu seus saltos acrobáticos e correu de um lado para o outro do palco, andando por cima das plataformas montadas ao lado da bateria. As estruturas, seguindo o conceito do álbum, eram a fuselagem de uma nave. O Iron Maiden sempre teve uma quedinha pela dramaturgia.

A primeira música a levantar o público de verdade foi "2 Minutes do Midnight", do disco “Powerslave”, de 1984, prova de que, apesar da boa vontade, os fãs queriam mesmo era vibrar com os sucessos, como na turnê de greatest hits "Somewhere In Time", de 2008, que passou pelo país com três shows esgotados. O povo urrava no refrão e pulava junto meio inconscientemente, no ritmo do baixo de Steve Harris.

Está aí, inclusive, algo que nunca deixa de impressionar no Iron Maiden ao vivo. Apesar da competência do pelotão de guitarras de Janick Gers, Adrian Smith e, principalmente, Dave Murray, é o baixista Harris que chama atenção, fuzilando os ouvidos com seu instrumento, sempre em posição de ataque. A bateria de Nicko McBrain não fica muito atrás – os dois dominaram a mixagem nas caixas de som.

“Eu sei que vocês vão para a igreja amanhã cedo”, brincou o vocalista, “mas a gente não dá a mínima e vamos mantê-los acordados a noite toda”. Não foi exatamente assim que aconteceu, embora “Dance of Death” e “The Trooper” (com direito àquela bandeira em frangalhos da Grã-Bretanha), outros clássicos da banda, devam estar reverberando na cabeça dos fanáticos até agora. São eles que cantam junto, vocalizam as guitarras e não baixam os braços em riste. Foram eles que deixaram Bruce Dickinson sem voz e o Iron Maiden, estupefato.

A turnê do álbum "The Final Frontier" pode ser a última dos metaleiros britânicos

Essa empatia não é de graça. Há duas semanas, a banda estava viajando de Seul para Tóquio, no Boeing pilotado pelo vocalista, quando os terremotos sacudiram a Ásia e provocaram o tsunami. Os dois shows em solo japonês foram cancelados e, por conta disso, o grupo, sem querer ser “piegas”, como Dickinson advertiu, dedicou a performance de “Blood Brothers” no Morumbi aos fãs do Japão. O vocalista foi ainda mais longe. “Aos amigos do Maiden no Egito, Síria e Líbia. Não importa sua cor, religião ou sexo. Se você é fã do Maiden, você é da família.”

A sequência final do show em São Paulo foi de salvar o ingresso de quem estava ressabiado com “The Final Frontier”. Além dos hits “Fear of the Dark” e “Iron Maiden”, o mascote Eddie fez duas aparições. A primeira, caminhando pelo palco, personificado em um boneco de três metros de altura que até ganhou guitarra de um roadie para ensaiar uns acordes. A segunda, mais apoteótica, surgindo gigantesco atrás do palco, com olhos brilhantes, além de cabeça, mandíbula e garras articuladas, numa espécie de destaque de carro alegórico em versão high-tech – sim, isso é um elogio.

O bis teve mais alegria: "The Number of the Beast", "Hallowed Be thy Name" e “Running Free”, as três do começo da década de 1980, era de ouro da banda. Alheio às histórias de que essa deve ser sua última turnê, em quase 40 anos de carreira, o Iron Maiden provou que ainda tem brilho e vitalidade para sustentar o título de lenda. Não são muitos por aí de quem pode se dizer o mesmo.

O grupo volta aos palcos neste domingo, no Rio de Janeiro, na Arena HSBC. Ao contrário dos irmãos Max e Iggor Cavalera, que fizeram com o Cavalera Conspiracy o show de abertura na capital paulista (veja fotos) – inclusive tocando hits do Sepultura, como “Territory” e “Roots Bloody Roots” –, no Rio a tarefa cabe à banda Shadowside. Depois, o Iron Maiden segue para Brasília (30/03, estádio Mané Garrincha), Belém (01/04, Parque de Exposições), Recife (03/04, Jóquei Clube) e encerra a viagem pelo Brasil em Curitiba (05/04, Expotrade).

Veja o setlist do Iron Maiden em São Paulo:

"Satellite 15... The Final Frontier"
"El Dorado"
"2 Minutes do Midnight"
"The Talisman"
"Coming Home"
"Dance of Death"
"The Trooper"
"The Wicker Man"
"Blood Brothers"
"When the Wind Blows"
"The Evil That Men Do"
"Fear of the Dark"
"Iron Maiden"

Bis

"The Number of the Beast"
"Hallowed Be thy Name"
"Running Free"
/////////////////////////RIO JANEIRO/////////////////////////////////////////////////


Um dia depois de ter de adiar sua apresentação no Rio por conta de uma falha da organização, o Iron Maiden incendiou a HSBC Arena, mas não deu qualquer recompensa especial aos cariocas. A banda seguiu exatamente o setlist que vem sendo tocado, como aconteceu em São Paulo, e, apesar de um show enérgico e tecnicamente perfeito, ficou uma sensação de falta de flexibilidade e de sensibilidade. Agarrados ao roteiro, Bruce Dickinson e companhia se escoraram em uma produção de alto nível que não deixou o público se importar muito com a falta de improviso e, especialmente, falta de um diferencial para quem enfrentou horas no trânsito caótico até a Barra da Tijuca em plena segunda-feira por conta do cancelamento do show.

Ao contrário do que aconteceu no domingo, no horário marcado para o início do show já não havia filas do lado de fora. A banda entrou no palco às 21h15 e tocou por duas horas. Dickinson, que na véspera havia mostrado imensa habilidade em controlar a plateia e evitar um grande tumulto ao avisar que o show não poderia acontecer naquele dia, novamente foi impecável como mestre de cerimônias. Citou o fato em dois momentos. A primeira vez, com ironia, logo após "2 minutes to midnight": "Bom ver vocês aqui de novo, temos uma plateia incrível e uma grade novinha. Foi muito cara, mas nós não pagamos, vocês não pagaram, algum 'motherfucker' pagou, então aproveitem", disse o vocalista, antes de agradecer pela forma pacífica com que os fãs deixaram o local no dia anterior (houve relatos de depredação na rede social Twitter).



Iron Maiden incendiou o público durante o show no Rio

Ao citar adiamento, Dickinson faz referência ao Japão
Na segunda vez em que Dickinson mencionou o episódio, referência ao Japão, colocando em perspectiva o problema técnico no Rio. Cerca de 10 minutos antes de pousar em Tóquio para um show em março, o avião da banda foi avisado que teria de desviar para Nagoya, em função do terremoto, e a apresentação teve de ser cancelada. "Tivemos um problema aqui no Rio, mas também tivemos um problema na turnê em Tóquio, por causa do terremoto. Vocês devem se sentir sortudos por morar no Brasil", disse Dickinson, ovacionado. Emendou com uma frase contra o racismo: "Não importa se você é negro, branco, japonês, índio, são todos fãs do Iron Maiden".




Com um público que misturava jovens e veteranos, a banda mostrou que não vive apenas de passado. Boa parte das canções dos discos mais recentes, como "The wicker man", do "Brave new world", "Dance of death", do álbum homônimo, tiveram acompanhamento em coro do público. A mistura das novidades com os clichês da banda agradaram ao público. Enquanto Nicko McBrain tocava enfurecido, enclausurado em seu mundinho particular de surdos e pratos, Dickinson usou o seu "bordão" quatro vezes. A cada "scream for me, Rio (grite para mim, Rio)", a resposta da pista era intensa.

"Reciclagem" de parte do figurino e cenografia
Como aconteceu na turnê de 2009 ("Somewhere back in time"), quando o Iron Maiden trouxe ao Brasil o palco completo inspirado na turnê "World Slavery Tour" (1984/85), do álbum "Powerslave, desta vez os ingleses também capricharam na cenografia. Puderam ser vistas algumas repetições do show apresentado na Apoteose há dois anos. Em "The trooper", clássico do disco "Piece of mind", por exemplo, Dickinson novamente vestiu a farda vermelha e sacudiu como louco a bandeira da Inglaterra por todos os cantos do palco, enquanto Steve Harris "metralhava" os fãs com o baixo. Na primeira música do bis, "The number of the beast", o mesmo capeta, meio bode, meio homem, surgiu no palco.



Bruce Dickinson esbanjou energia no show do Iron Maiden, no Rio, e ironizou falha técnica que levou ao adiamento no domingo

A primeira novidade foi a nova versão do monstrengo Eddie, reproduzindo a ilustração que estampa a capa de "The final frontier", álbum lançado em 2010 e que dá nome à turnê. Bem articulado e cheio de detalhes, o boneco entrou no palco endiabrado e chegou a pegar uma guitarra para brincar com os músicos em "The evil that men do", do disco "Seventh son of a seventh son".

A grande surpresa da noite veio em um momento nada surpreendente. Como é tradição da banda, na virada da música que nomeia o grupo, "Iron Maiden", uma figura gigantesca de Eddie surgiu atrás do palco, fazendo a múmia da turnê anterior parecer antiquada. Mexendo dedos, boca, cabeça e cheio de detalhes, a nova versão do boneco tomou toda a extensão do palco. Não soltou fogo pelos olhos, como a múmia anterior, mas arrancou gritos de "Eddie". Um dos olhos da criatura chegou a falhar no fim, mas nada que atrapalhasse o grande momento do show.

Banda ignora gritos por mais um bis e se agarra ao roteiro
O momento de frustração ficou para o final. Depois de "Running free", o encerramento do setlist que vem sendo usado em sequência, Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers atiraram palhetas, Dickinson já jogara o seu gorro, Nicko revezava arremessos de baquetas e freesbies. As luzes, acesas, se apagaram. A iluminação púrpura do palco futurista foi retomada. E surgiu o coro pedindo "Run to the hills". O palco permaneceu apagado e o público continuou a gritar pedindo a volta da banda, até os roadies entrarem em cena para mostrar que não havia jeito. Pegou mal. O público deixou a arena ao lado de "Always look on the bright side of life", fato corriqueiro, mas que, em função do clima criado pela expectativa de um novo bis com as luzes apagadas, soou como ironia. Bastaria uma canção a mais para fechar a noite em alta.



"Satellite 15... The Final Frontier"
"El Dorado"
"2 Minutes do Midnight"
"The Talisman"
"Coming Home"
"Dance of Death"
"The Trooper"
"The Wicker Man"
"Blood Brothers"
"When the Wind Blows"
"The Evil That Men Do"
"Fear of the Dark"
"Iron Maiden"

Bis
"The Number of the Beast"
"Hallowed Be thy Name"
"Running Free"

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