quarta-feira, junho 20, 2012
Bola da Copa de 1950
Bola da Copa de 1950 é arrematada por telefonema uruguaio em leilão em Porto Alegre
Relíquia assinada por diversos jogadores uruguaios custou R$ 45 mil, em um lote sem disputa
A bola da Copa de 1950, aquela que sacudiu as redes e calou o Brasil diante dos uruguaios, no fatídico Maracanazo, tem novo dono. E ele é uruguaio.
Na terça-feira à noite, a relíquia foi leiloada em Porto Alegre sem a mesma emoção que o duelo presenciado nos gramados naquela tarde de julho. Por telefone, um comprador identificado apenas por Henrique e com sotaque espanhol arrematou a bola. Conforme o leiloeiro Daniel Chaieb, veio do Uruguai a ligação – pois teve o prefixo 00598, daquele país.
A ligação foi rápida. Quem atendeu ao celular foi Juan Daniel Estevez, 56 anos, uruguaio de Montevidéu que mora no Brasil há 30 anos. Vestindo a camisa celeste e íntimo da Agência de Leilões, na Rua Câncio Gomes, ele foi recrutado a mediar a ligação vinda do Exterior. Do outro lado da linha, apenas o primeiro nome foi dito. Inicialmente, teve de responder sobre a comissão da venda e como receberia o produto. Depois, seguiram-se reações ansiosas.
— Ele perguntava: "estão dando lances?" — relata Estevez.
Ninguém deu. E a bola com os nomes de jogadores uruguaios gravados, que conta também com um certificado de autenticidade assinado em cartório por nosso carrasco Ghiggia, foi vendida por R$ 45 mil.
— Es nuestra! Es nuestra! — gritou Estevez, ao telefone, mesmo sem saber com quem falava.
Entre o público sentado no salão, estava o jornalista uruguaio Andrés López Reilly, enviado pelo El País. Apesar de o jornal ter questionado a relação da bola com a Copa de 1950 — Reilly atesta que não é a do Mundial, porque tem 16 gomos em vez de 12 —, ele garante a autenticidade das assinaturas. Foi enviado a Porto Alegre ontem exclusivamente para acompanhar o leilão. Questionado sobre a chance de um novo Maracanazo em 2014, sorri:
— Seria bom.
O administrador da casa, Anderson Maciel, 32 anos, se resigna. Ghiggia desmentiu que a bola seja realmente a da Copa, dias antes de sofrer um acidente de trânsito que o colocou com gravidade no hospital. Ainda assim, vale pela antiguidade e pelas assinaturas, verdadeiras. Até ontem, o item mais inusitado da história de 10 anos da Agência de Leilões havia sido uma máquina de escrever que pertenceu a Getulio Vargas. Agora, a casa se orgulha de ter sido a moradia da bola que mudou a história do futebol brasileiro.
Há um charme no ritual do leilão. As peças expostas se amontoam no salão. Na mesma noite, foram oferecidas obras de Carlos Tenius e Xico Stockinger. Na parede à direita, lotada de quadros, há obras de Iberê Camargo. Em um púlpito e com o auxílio de um microfone, o leiloeiro Chaieb brinca, ao abrir os 400 lotes:
— Vamos evitar lances miseráveis.
Frequentador, tanto como vendedor quanto como comprador, o empresário Carlos Schmidt, 58 anos, diz que a a atração redonda, cheia de histórias, fez encher o local de leigos.
— A raridade da bola todo mundo entende — confidencia.
Thais Sardá
thais.sarda@zerohora.com.br
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