quinta-feira, outubro 01, 2009

Relato Gaucho Dentro TSUNAMI


A viagem ao arquipélago de Samoa seria, para o gaúcho Julio Gruendling, 39 anos, de Santa Cruz do Sul, parte de um roteiro de 10 dias de férias dedicados à prática do surfe.

Morando há 10 anos na Austrália, onde trabalha como gerente de uma loja, ele e um grupo de amigos foram até o país do Pacífico em busca da onda perfeita. Vão voltar de lá contando a história de como conseguiram sobreviver à fúria do tsunami que ontem (tarde de terça-feira no Brasil) atingiu Samoa, Samoa Americana e Tonga.

– A gente nasceu de novo – garantiu, por telefone, a Zero Hora.

Confira os principais trechos da entrevista:

Zero Hora – Onde vocês estavam quando houve o tsunami?

Julio Gruendling – Naquele dia, acordamos às 5h30min e pegamos o barco do resort onde estávamos. Éramos seis pessoas, entre elas meu amigo Guilherme Costa, que também é brasileiro. Já estávamos havia meia hora surfando quando, de repente, acho que eram umas 6h, 6h30min, os recifes começaram a aparecer. A água recuou, os recifes ficaram quase cinco metros para fora da água. Aí a gente se apavorou. Pensamos: “É um tsunami”.

Zero Hora – Qual foi a reação do grupo?

Gruendling – Estávamos em uma zona de impacto, onde as ondas quebravam – a Ilha de Upolu tem um anel de coral ao seu redor. Entre a areia e o coral, é a parte que eles chamam de lagoa. Acabamos nos dividindo. Três pessoas – eu e mais dois australianos – saíram remando para o alto-mar, na direção das ondas. Meu amigo brasileiro e mais dois australianos saíram em direção à praia. Se agarraram nos recifes, se segurando para não serem sugados. Olharam para trás e viram aquela onda imensa. Aí, se jogaram em cima da espuma da primeira onda, que não era muito grande, e foram levados até a praia. Eu já sabia que, em um tsunami, nunca se pode ir em direção à praia, é mais seguro dentro da água, onde é mais profundo e onde a onda não vai estourar.

ZH – Para escapar, você foi ao encontro das ondas?

Gruendling – A gente saiu remando com as pranchas para o alto-mar para tentar passar essas ondas que estavam cada vez mais próximas dos recifes e estavam se formando para quebrar. A gente passou a primeira onda, passou a segunda, e a terceira já era de quase cinco metros. O pessoal que estava na praia foi arremessado para dentro do mato. Tinha gente tentando se segurar em coqueiros para a água não levar, porque tinha muita árvore, telhado de casa, cachorro, gente, lagarto, sujeira, tudo boiando. Foi um pavor. Eu estava vendo tudo isso lá de fora, do alto-mar. E os meus amigos, lá, tentando correr e se salvar.

ZH – Quanto tempo depois você conseguiu sair do mar?

Gruendling – Ficamos umas três horas no mar, porque a gente não tinha como ultrapassar os recifes, que estavam expostos. Tivemos de esperar o mar normalizar, porque teve uma segunda sequência de ondas. Houve essas primeiras três ondas, parou cinco minutos, e depois o mar recuou de novo. Daí, houve mais ondas, com menos intensidade. Aí a gente foi para o barco, cortou a corda que o estava segurando e rumamos para o alto-mar de novo.

ZH – O hotel de vocês foi atingido?

Gruendling – Sim, ficava a cinco metros da praia. Mas a área onde a gente estava não foi atingida, porque era mais para cima do morro. Mas o que tinha embaixo, restaurante, bares, acabou tudo. Depois do tsunami, fomos evacuados do hotel. Evacuaram toda a costa onde as ondas pegaram. Estamos agora no outro lado da ilha, a 700 metros do nível do mar. Está todo mundo em cima do morro.

ZH – Qual a imagem que ficou para você do tsunami?

Gruendling – A de terror. É cada um por si e Deus por todos.

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